terça-feira, 9 de setembro de 2008

Vermelho: Política e Literatura


Vermelho é o nome de uma cor carregada de forte simbologia.
Pode representar sangue, e este, não raro, é apresentado como o fluido da vida e da saúde. Por isso, a cor da "Cruz Vermelha" é vermelha, e a do "Crescente Vermelho", também o é.

Politicamente, o vermelho já foi a cor da liberdade (para alguns continua sendo), que os liberais proclamavam em sua luta revolucionária contra o despotismo aristocrático.

Derrubados os pilares da Aristocracia, não demorou para que o vermelho fosse proscrito, tornado-se uma cor maldita. Isso porque bandeiras vermelhas continuaram a ser desfraldadas por quem entendia que não bastava substituir uma elite por outra, cabendo aprofundar o processo de mudança, para que o poder fosse exercido, realmente, pela maioria da Sociedade.

E assim, o que antes era saudado como legítimo anseio de liberdade, tornou-se sinônimo de subversão, de baderna, de atentado aos mais lídimos valores de nossa civilização cristã ocidental.

Na Sociedade Aristocrática, o valor de um homem era medido pela cor de seu sangue, vale dizer, por seu berço. Para distinguir-se da ralé (também chamada de "canalha"), em cujas veias circulava sangue vermelho, convencionou-se que o sangue da nobresa era azul.

Na Sociedade Liberal, tornada Capitalista, o homem vale pelo que tem, não pelo que é. Talvez por isso, os apóstolos do "Calendário da Paz" sustentam que ela pulsa fora do "tempo natural", posto que o próprio tempo é tratado como sinônimo de dinheiro.

Definitavemente, em termos políticos, o Vermelho tornou-se uma cor fora de moda.

Porém Vermelho pode, tão somente, indicar o nome de uma pessoa; melhor dizendo, seu apelido. Como o personagem descrito pelo escritor inglês, William Somerset Maugham, em sua obra "Histórias dos Mares do Sul".

Muitos leitores de Maugham não relutam em considerar este o seu melhor livro de contos. E dentre os contos enfeixados no livro, "Vermelho" é, inegavelmente, um dos melhores, senão o melhor.

Da primeira à última linha, "Vermelho" é puro Maugham, com seu realismo amargo sobre o amor.

Poucas vezes ele descreveu um relacionamento amoroso de modo tão idílico e apaixonante como o fez ao descrever o romance entre entre "Vermelho" e uma jovem nativa da Polinésia. A leitura embala-nos no Sonho e quase acreditamos que é possível viver o Paraíso neste mundo.

Mas logo somos despertos pelo autor e degregados à leste do Eden.
Maugham faz questão de não nos deixar esquecer (nessa e em outras de suas obras) aquilo que os amantes preferem ignorar: que o amor morre, seja por descuido, por maltrato, por alguma fatalidade, ou pela inexorável e corrosiva ação do tempo.

Ler Maugham é sempre um prazer, mas é preciso renunciar a qualquer ilusão de eternidade.

(Alvaro Rodrigues - 2oo7)

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