quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ausência


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
- Carlos Drumond de Andrade

Drácula

Drácula, o "vampiro da noite", é figura de ficção, criada pelo escritor Bram Stoker, mas inspirada em personagem real que, embora não bebesse sangue humano, não vacilava em derramá-lo das formas mais cruéis. Seu nome era 

VLAD, O EMPALADOR
  

    
Vlad foi um "boiardo" (aristocrata) que viveu na Europa Oriental, no século XV, em uma área que atualmente faz parte da Romênia. Embora fosse originário da Transilvânia, seu nome está associado à história de uma região vizinha, a Valáquia, onde até hoje ele é cultuado como um herói nacional.
   
 
Nasceu por volta do ano de 1431, na cidade de Sighisoara (Schassburg, em alemão), na Transilvânia, localizada a cerca de 40 quilômetros ao sul de Bistrita. Teve dois irmãos: Mircea e Radu. A casa onde veio ao mundo está, atualmente, identificada por uma placa, onde se lê que seu pai ali morou de 1431 a 1435.
  
Sua mãe era a princesa Cneajna, da dinastia Musatin da Moldávia, e seu pai, que também se chamava Vlad, era o voivoda (senhor) da Valáquia, ainda que devendo vassalagem feudal aos soberanos da Hungria.
 

A ORDEM DO DRAGÃO



À época em que Vlad nasceu, toda aquela região vivia um clima político de conflitos e incertezas, sendo objeto de disputa entre os húngaros e os turcos otomanos, que forçavam as portas da Europa através dos Bálcãs, mal contidos pelo já debilitado Império Bizantino.

Parece ter sido nesse ano (1431) que seu pai ingressou na Ordem do Dragão (Dracul), cujo nome viria a adotar, passando a ser conhecido como Vlad Dracul.

A Ordem do Dragão era uma fraternidade militar e religiosa, criada pelo imperador Sigmund e sua segunda esposa, Barbara von Cilli, com o propósito de defender a igreja católica contra heresias e organizar uma cruzada contra os turcos, que ameaçavam a península balcânica.

Após lutar por vários anos contra os turcos, o pai de Vlad acabou preferindo fazer um acordo secreto com o sultão, Murad II, e por isso, deixou de prestar o auxílio militar requerido pelo príncipe húngaro, Hunyadi, quando os otomanos invadiram a Transilvânia, em 1442. Essa traição lhe custou o governo da Valáquia, que ele só recuperou no ano seguinte, com o apoio do sultão, de quem se tornou vassalo.

Para garantir a fidelidade de seu aliado, Murad II tomou como reféns dois de seus filhos: Radu e o jovem Vlad. E foi assim que o príncipe Vlad tornou-se um hóspede forçado na corte do sultão, onde permaneceria até 1448.
  
Em 1447, seu pai morreu em uma emboscada armada pelos húngaros, e seu irmão, Mircea, aprisionado, foi enterrado vivo (ou queimado vivo, segundo outra versão). O domínio da Valáquia ficou com Vladislav, vassalo de Hunyadi.
  
Hunyadi János Szeged

Disposto a tudo fazer para entrar na posse do que entendia ser seu por herança, Vlad convenceu o sultão a libertá-lo e ajudá-lo a retomar o que fora tirado de seu pai. Com o apoio de tropas turcas, conseguiu o que pretendia mas foi uma conquista efêmera pois, alguns meses depois, Hunyadi atacou e forçou-o a fugir para a Transilvãnia.

Abandonado pelos turcos e perseguido por Hunyadi, Vlad passou um dos períodos mais difíceis de sua vida. Não tardou a ter que também deixar a Transilvânia, buscando refúgio na Moldávia, onde se encontrava quando a situação se alterou a seu favor. Vladislav passara para o lado dos turcos e, devido a isso, Hunyadi resolveu fazer as pazes com o antigo inimigo. Vlad tornou-se, finalmente, voivoda da Valáquia, sob a proteção de Hundyadi, a quem passou a dever vassalagem.
   
 
O EMPALADOR


Castelo de Vlad Dracula em Trigoviste

Em 1453, os turcos tomaram Constantinopla e as portas da Europa Oriental se abriram à invasão otomana. A princípio, Vlad lutou sob a bandeira de Hunyadi contra os invasores mas quando este morreu, ele se sentiu livre da tutela húngara, tornando-se senhor único e absoluto da Valáquia. Fazendo da cidade de Trigoviste sua capital (onde construiu um castelo, próximo ao rio Arges), resolveu travar sua própria guerra com os turcos.

Foi no período de 1456 a 1462 que Vlad Dracula (*) construiu sua dupla fama: de um lado, a de herói nacional da Valáquia, defendendo-a contra a avalanche turca; de outro, a de um tirano cruel, que se comprazia em infligir aos inimigos (internos e externos) sofrimentos atrozes. Sua preferência pelo suplício da empalação acabaria lhe granjeando a alcunha de "Tepes" (empalador), com a qual entrou para a História.

A empalação consistia em pendurar a pessoa em uma estaca, fincada ao chão, que era introduzida, geralmente, através do ânus da vítima. Para evitar que órgãos vitais fossem perfurados, provocando morte rápida, a estaca era arredondada, não afiada e untada com óleo. Desse modo, o condenado só morria após horas (ou mesmo dias) de agonia.

Empalação

Para semear o terror, Vlad costumava deixar os corpos apodrecerem nas estacas, como uma forma de aviso aos seus inimigos. Um relatório militar, datado de 1460, menciona que uma tropa turca, ao penetrar em território valáquio, recuou, atemorizada, ao deparar com centenas de estacas erguidas às margens de um rio, das quais pendiam corpos em adiantado estado de putrefação.

A bem da verdade, diga-se que Vlad não era o único a usar esse método abominável de execução. Os turcos também o usavam , e é até provável que tenham sido eles a introduzí-lo na Europa Oriental. Diga-se também que, nessa época, castigar os inimigos com requintes de crueldade era prática corriqueira e aceita por todos, fossem cristãos ou muçulmanos. Mas Vlad "Tepes" acabou se tornando célebre pela grande quantidade de pessoas que imolou, nos poucos anos em que exerceu o poder supremo na Valáquia.

Além da empalação, ele também se dedicava a outras práticas não menos cruéis, tais como: enterrar pregos na cabeça e outras partes do corpo da vítima; decepar braços, pernas, orelhas e narizes; e mutilar órgãos sexuais de pessoas "sem castidade", especialmente esposas infiéis e mulheres de vida promíscua.

  
O FIM DE VLAD


Apesar de seu destemor e de ter obtido vitórias importantes, Vlad não conseguiu deter o avanço turco. Em 1462, viu-se obrigado a fugir da Valáquia, deixando para trás a esposa, que se suicidou, atirando-se da torre do castelo, para não cair nas mãos dos muçulmanos. Dirigindo-se à corte de Matthias Ccovinus, rei da Hungria, pediu auxílio para recuperar seu reino mas não teve êxito, chegando a ficar detido, por algum tempo, na prisão real.

Depois de solto, permaneceu na corte húngara até 1474, período em que teria desposado uma donzela parente do rei. Enquanto isso, seu irmão Radu, que se convertera à causa turca desde o tempo em que era refém do sultão, governava a Valáquia, em nome do monarca otomano.

Quando o irmão morreu e foi sucedido por Basarab (outro marionete do sultão), Vlad tentou recuperar seu reino, aliando-se ao príncipe da Transilvânia. De início, chegou a colher algumas vitórias contra as tropas de Basarab mas, ao enfrentar as forças turcas, acabou sendo morto numa batalha, em dezembro de 1476.

Sua cabeça foi levada ao sultão, que a mandou ser exposta em uma estaca, para que não pairassem dúvidas sobre sua morte. O corpo decapitado foi enterrado no mosteiro de Snagov, perto da atual Bucarest.

 


BRAM STOKER E O MITO DO VAMPIRO

 Bram Stoker

A extrema crueldade de Vlad e o terror que infundia em seus inimigos respondem pela fama de "demônio", que tanto os seus contemporâneos quanto a posteridade lhe conferiram. Considere-se também que essa associação foi favorecida pela semelhança entre as palavras romenas "dracul" (sobrenome adotado que Vlad herdou do pai), cujo significado é "dragão", e "drac" (em alemão, "drache"), que significa "demônio".

Apesar disso, em toda a tradição da Europa Oriental, jamais sua pessoa foi associada ao mito, muito difundido na região, dos "mortos-vivos", ou "vampiros", referidos pelos termos "vrolok" (em idioma eslovaco) ou "vlkoslak" (em sérvio). Essa associação só viria a ser estabelecida, no mundo ocidental, a partir do romance "Drácula", escrito pelo irlandês Bram Stoker, e editado, pela primeira vez, por Archibald Constable & Company, em 1897.
  

É provável que, para escrever sua obra, Stoker não tenha realizado qualquer pesquisa mais aprofundada sobre a história de Vlad, limitando-se a recolher o nome "Drácula", em sua acepção deturpada de "filho do demônio", e inserí-lo no contexto lendário dos vampiros, seguindo o caminho literário aberto por Thomas Preskett Prest, autor de "Varney, o vampiro" (1847), e Sheridan Le Fanu, criador de "Carmilla" (1872). Talvez por isso, ele comete o erro de situar o castelo de Drácula na Transilvânia, ao invés de na Valáquia. E se a trama do romance se inicia na Romênia, Stoker apressa-se em transferí-la para a Inglaterra, cenário que lhe era, certamente, bem mais familiar.

Em termos literários, "Drácula" é um romance menor, de narrativa que pode se tornar cansativa, porquanto vazada em notas de diário, cartas e telegramas. Mas a força do personagem central é tão grande sobre o imaginário do leitor, que ele se tornou emblemático, garantindo sucessivas edições do livro, em todos os principais idiomas do mundo.

Além disso, o cinema ajudou a amplificar o prestígio do "vampiro da noite", encarnado na tela por atores como Bela Lugosi, Klaus Klinski e Christopher Lee.
  
Christopher Lee


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(*) O "a" final indica "filho de"; logo, Dracula significa "filho de Dracul", ou "filho do dragão"

@ Alvaro Rodrigues (2005)


terça-feira, 1 de novembro de 2011

31 de outubro



Oh, espíritos de todos que morreram ao longo deste ano, voltem à procura de corpos vivos para possuir e usar no próximo ano. Fazei antes que eles apaguem as tochas e fogueiras de suas casas, para que se tornem frias e desagradáveis e, fantasiados, desfilem  ruidosa e destrutivamente a fim de assustar os que buscam corpos para possuir.  (Lenda celta)



O glorioso rei Salomão


Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam; E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda a sua glória, se vestiu como qualquer deles. (Mateus 6:28-29)


Até o presente, não há qualquer comprovação ou mesmo indícios significativos capazes de conferir autenticidade histórica à figura do rei Salomão, nem que Jerusalém tenha sido, por volta do século X a.C., o centro de um reino amplo e próspero, conforme descrito no Livro dos Reis.
  
Ademais, tendo sido Salomão um rei famoso por sua sabedoria e riqueza (como mostrado na Bíblia), era de se esperar que seu nome fosse referido por outros povos daquela região, sobretudo pelos fenícios de Tiro, com quem o reino de Salomão manteria intenso comércio.
   
A ausência de quaisquer achados arqueológicos dessa natureza parece indicar que Salomão é, na verdade, o símbolo de um passado glorioso (ainda que lendário) que a maioria dos povos antigos apreciava se atribuir.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Anistia Internacional



Após 10 anos de ausência, a Anistia Internacional (AI) - que celebrou, este ano, seu cinquentenário - anunciou sua disposição de reabrir seu escritório no Brasil.


Com cerca de 3 milhões de colaboradores em 150 países, essa ONG é uma das mais atuantes na defesa dos direitos humanos ao redor do mundo. E, ao contrário de outras organizações do gênero (como a Freedom House), ela trata indistintamente tanto nações democráticas, como os Estados Unidos, como as de regime autoritário, como a China. Para ela, quem viola os direitos humanos é passivel de crítica, não importa o regime do país violador, nem se trata de uma questão ideológica.


- "Direitos Humanos não são nem de esquerda nem de direita." - diz o atual secretário-geral da AI, o indiano Salil Shetty.


Tampouco é uma questão cultural.


- "Há quem diga que a ideia de direitos humanos universais não faz sentido, que não se pode querer que os mesmos valores sejam abraçados por todas as culturas, em todo lugar. Com freqüência, quem diz isso tem privilégios muito bem assegurados e não se importa com o que acontece ao seu redor. Há também quem afirme que o condicionamento cultural torna aceitável para muitos aquilo que para nós é bárbaro. Não podemos concordar com esse argumento. Para nós, a violação dos direitos humanos em qualquer lugar do mundo é um problema das pessoas em toda parte. Este é um motivo pelo qual não fazemos "rankings" de países que violam mais ou menos os direitos humanos".


Shetty esteve, este ano, no Brasil para preparar a reinstalação do escritório da AI.


- "Escolhemos este momento para voltar ao Brasil porque o país, nestes últimos anos, cresceu muito em relevância no cenário internacional e passa por um grande surto de desenvolvimento" - explicou. 


E como o tema da Impunidade é muito importante para a Anistia, ele elogiou nosso país pela disposição de instalar uma Comissão da Verdade para investigar os crimes cometidos durante a Ditadura Militar, com a ressalva de que é preciso conferir o que será feito na prática, ou seja, que tipo de medidas serão tomadas.


- "Não aceitamos  o perdão a crimes como tortura ou sequestro. Por isso, consideramos importante a decisão de qualquer país de investigar o passado, para que os responsáveis por crimes desse tipo não fiquem impunes."


A Anistia Internacional mantem um site em lingua portuguesa:
http://www.br.amnesty.org/



Planta carnívora



Uma planta carnívora foi flagrada comendo um pássaro em um viveiro em Somerset, no sudoeste da Inglaterra. Nigel Hewitt-Cooper, responsável pelo viveiro, estava inspecionando o jardim tropical quando descobriu que uma de suas plantas carnívoras havia aprisionado um pássaro.
Acredita-se que esta seja segunda vez que se registrou uma planta carnívora comendo um pássaro em qualquer parte do mundo. A outra ocasião em que tal fenômeno teria sido registrado foi na Alemanha há alguns anos, contou Hewitt-Cooper.

"Eu tenho um amigo que estudou essas plantas a fundo e ele nunca encontrou evidências de nenhum deles ter capturado as aves", disse  ele.  "As maiores frequentemente pegam sapos, lagartos e camundongos e as maiores de todas já foram vistas com ratos dentro delas, mas encontrar um pássaro dentro de uma delas é bastante incomum".

A planta carnívora do viveiro de Somerset é natural do Sudeste Asiático. Ela atrai insetos e os aprisiona por meio de uma poça de líquido que usa, em seguida, para digerir suas presas.

Cooper-Hewitt disse acreditar que a ave tenha sido atraída por insetos presos pela planta. "Ela deve ter se inclinado para puxar um inseto que estava flutuando dentro do líquido da plant, escorregou e não conseguiu mais sair."
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Mais sobre Plantas Carnívoras:    
http://tecidovivo.blogspot.com/2010/12/plantas-carnivoras.html

FEB: o Brasil na guerra






Sêneca



Sábio é aquele que considera não apenas escravos, propriedades e cargos elevados, mas até mesmo seu corpo, seus olhos, suas mãos, e tudo o que torna a vida cara para nós, inclusive o próprio ego, como coisas cuja posse é incerta; vive como se as tivesse tomado por empréstimo e está pronto para devolvê-las de bom grado quando quer que elas sejam reclamadas.

Não obstante, ele não se menospreza, porque sabe que não se pertence mas cumpre todos os seus deveres tão diligente e prudentemente como o homem piedoso e escrupuloso tomaria conta de uma propriedade que lhe fosse entregue em custódia.

Quando chamado a devolver essas coisas não se queixa do Destino, mas diz: "Agradeço-te pelas coisas que estiveram em meu poder, administrei sua propriedade de modo a aumentá-la muito, mas já que assim me ordenas, eu a devolvo de boa vontade e com gratidão" (...)

Quando a Natureza nos reclamar o que antes nos confiou, digamos nós a ela: "Leva de volta o meu espírito, que está melhor do que quando o destes a mim". 

- Lucius Annaeus Seneca: filósofo romano estoico.

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Confissão a Maat



Maat era a palavra usada pelos antigos egipcios para designar a Verdade. Tornada uma divindade, havia um templo a ela dedicado.
Seu símbolo era uma pena, transportada em cerimônias e procissões para indicar a ideia de que "A Verdade prevalecerá", ou ainda, "Assim será a Verdade".   (Algo semelhante ao nosso "Assim seja")

Ao lado da múmia encerrada em seu túmulo, depositava-se o "Livro dos Mortos". Nele estava contida a "Confissão a Maat", que o morto haveria de recitar, quando estivesse no Tribunal de Osiris.

Dizia a "Confissão a Maat":

Glória a Ti, Ó Grande Deus, Senhor de toda a Verdade! 
Venho a Ti, Ó meu Deus, à Tua presença trago o meu ser, para tomar consciência de Teus decretos.
Eu Te conheço e estou hamonizado Contigo e com Tuas quarenta e duas leis (*), que Contigo se manifestam nesta Câmara de Maat.
Em verdade, coloquei-me em harmnonia Contigo, trazendo Maat em minha mente e minha Alma.

Por Ti destruí a maldade.
Não fiz mal a seres humanos.
Não oprimi os membros de minha família.
Não pratiquei o mal no lugar do direito e da verdade.
Não convivi com homens indignos.
Não exigi consideração especial.
Não decretei que um trabalho excessivo fosse feito para mim.
Não apresentei meu nome para enaltecimento.
Não privei de bens os oprimidos.
Não fiz ninguém passar fome.
Não fiz ninguém chorar.
Não causei dor a nenhum ser humano ou animal.
Não espoliei os Templos de suas oferendas.
Não adulterei os padrões de medida.
Não invadi campos alheios.
Não usurpei terras.
Não adulterei os pesos da balança.
Não afastei o leite da boca das crianças.
Não fechei a água quando ela devia correr.
Não extingui a chama quando ela devia arder.
Não repeli a Deus em suas manifestações.
Sou puro! Sou puro! Sou puro!



Segundo uma das muitas tradições criadas em torno de Maat (a deusa), ela seria filha de e de um passarinho que, apaixonando-se pela luminosidade e calor do Sol, subiu em sua direção até morrer queimado. No momento da incineração, uma pena voou: era Maat. 
Admitiam, outrossim, que essa era a pena usada por Anúbis para pesar o coração daqueles que compareciam ao Tribunal de Osiris.

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(*) A expressão "quarenta e dois" era muito usada no Antigo Egito para designar um número incontável, como hoje dizemos "mil e um".


segunda-feira, 24 de outubro de 2011

O domínio da vida



Vida ... uma estrada na qual somos todos peregrinos. Atrás de nós, o começo imediato, o nascimento, essa vasta eternidade. À nossa frente outra inevitável e vasta eternidade: a morte.  
Não pedimos esta vida e, todavia, não a poderíamos ter recusado. Como haveremos, então, de estar e reagir a ela?


Iludindo-nos com filosofias vãs que lajotam nossa indecisão com argumentos fatalistas (tanto mais saudados quanto mais ignotos) ?
O sucesso implica domínio e domínio implica em mobilizar todas as forças e poderes interiores do Homem, assim como as forças que lhe são exteriores ( o Eu recôndito há de ser capaz de olhar pela janela do porão e constatar que também há vida lá fora). 
Isso torna o ser humano um ser complexo, influenciado por princípios poderosos de natureza séria e vital. É mister tornamo-nos capazes de dar expressão material às nossas criações mentais, cada dia, cada hora, cada minuto.
Harmonizar-se com essas forças e torná-las nossas, atrelando-as a propósitos elevados, podem abrir as portas para o domínio da vida.




Cruzada (filme)


Título Original: Kingdom of Heaven
País: Reino Unido / Alemanha / Espanha
Ano de lançamento:  2005
Direção e Produção: Ridley Scott
Roteiro: William Monahan
Música: Harry Gregson-Williams
Fotografia: John Mathieson

Balian (Orlando Bloom) e seus cavaleiros


   Segundo seu diretor, Ridley Scott, Kingdom of Heaven é um filme "sobre a paz, a tolerância e a possibilidade de convivência entre povos de diferentes orientações religiosas, culturas e crenças". E para atingir seu propósito, ele não relutou em manipular fatos e personagens históricos.
   A ação se passa no final do século XII, época em que o sultão Saladino (de origem curda), empreende a reconquista de Jerusalém (1187), que os cristãos da Primeira Cruzada (1090) haviam tornado capital de seu Reino Latino, após promoverem horrenda matança de judeus e muçulmanos. .
   O  personagem principal é Balian, um bastardo ferreiro francês, que se torna cavaleiro e barão de Ibelin (um feudo na Palestina), graças à inesperada visita de seu genitor, o nobre Godfrey de Ibelin. Após a morte do pai, ele viaja para Jerusalém e, no caminho, mata, em duelo singular, um experiente guerreiro muçulmano, apesar de só ter tido algumas poucas horas de treinamento no uso da espada (!!!).
   Em Jerusalém, Balian toma posse de seu feudo, torna-se amigo do rei-leproso, Baldwin IV , e do conselheiro real, Tiberias, conde de Trípoli, e ainda namora a bela Sybilla, esposa insatisfeita do prepotente Guy de Lusignan.


A bela Sybilla (Eva Green )

   A verdade histórica é que Balian nunca foi ferreiro, nem precisou viajar para a Palestina, pois já estava lá àquela época. Era um dos três filhos do barão Balian (e não Godfrey), e sua família participava da Alta Corte do Reino Latino. Também não teve um caso com a princesa Sybilla, que era irmã do rei-leproso e mãe do herdeiro do trono, Baldwin V (ainda criança e solenemente omitido no filme). Segundo o historiador árabe, Ali ibn al-Athir, Sybilla apaixonou-se "por um recém-chegado do Ocidente, um certo Guy (de Lusignan). Ela o esposou e, com a morte prematura de Baldwin V, colocou a coroa na cabeça do marido".
   No filme, o conde de Trípoli - Tiberias -, que é o artífice da política de coexistência pacífica com o sultão Saladino, sustentada por Baldwin IV, abandona Jerusalém quando Guy sobe ao trono e conduz os cristãos à desastrosa Batalha de Hattin. Mas Ibn al-Athir nos exibe outra imagem do conde: "Ele era muito ambicioso e desejava ardentemente tornar-se rei". Durante algum tempo, o conde (cujo nome real era Raymond) foi regente do rei-menino, Baldwin V, mas perdeu prestígio com a ascensão de Guy, o que lhe gerou tanto rancor que escreveu a Saladino oferecendo-lhe sua amizade, em troca do trono de Jerusalém. O máximo que conseguiu foi ter sua fuga para Trípoli garantida pelo sultão.
   
Tiberias, conde de Trípoli (Jeremy Irons)


   O grande vilão da trama é Reynald de Chatillon, cavaleiro da Ordem dos Templários, responsável pelo ataque a uma caravana muçulmana, fato que levou ao rompimento da trégua e conseqüente investida de Saladino contra Jerusalém. Após a batalha de Hattin, ele é aprisionado (juntamente com Guy) e morto pelo próprio sultão.  Segundo o escritor Imadeddin al-Asfahami, conselheiro de Saladino, que assistiu ao fato, "a cabeça de Reynald foi cortada e o seu corpo arrastado diante do rei Guy, que começou a tremer".



    Balian foi, realmente, o responsável pela defesa de Jerusalém, como mostra o filme. O cerco da cidade durou de 20 a 29 de setembro de 1187 e terminou com um acordo entre Balian e Saladino. No filme, o cristão entrega Jerusalém em troca de salvo-conduto gratuito para todos os seus habitantes, depois de ameaçar destruir os "lugares santos" da cidade. A verdade histórica é que, além disso, ele ameaçou matar todos os cinco mil muçulmanos que viviam em Jerusalém. Por outro lado, o acordo não saiu de graça: Saladino cobrou um resgate de cada pessoa a quem garantiu salvo-conduto.


 
O ataque a Jerusalém
 
   O filme se encerra com Balian retornando à França, na companhia de Sybilla. A realidade é que ele partiu sozinho para Tiro, ao encontro de sua esposa.



Elenco:
Orlando Bloom ...  Balian de Ibelin
Eva Green ...  Sybilla
Liam Neeson ...  Godfrey de Ibelin
Jeremy Irons ...  Tiberias
Brendan Gleeson ...  Reynald de Chatillon
Marton Csokas ...  Guy de Lusignan
Ghassan Massoud ...  Saladino
Edward Norton ...  Baldwin IV
Alexander Siddig ...  Nasir/Imad
Jon Finch ...  Patriarca de Jerusalém
Iain Glen ...  Ricardo I da Inglaterra

sábado, 8 de outubro de 2011

O tempo do Amor



Quanto tempo passa entre a troca encantada de olhares e o momento em que você percebe que a magia acabou?
A tradição dos amantes diz que a prova de fogo se apresenta na "crise dos 7 anos" que, nos Estados Unidos, é conhecida como "seven year itch" (a coceirinha dos sete anos). 
Mas uma pesquisa recente realizada pela Universidade de Wisconsin, onde foram ouvidas cerca de 10 mil pessoas, encontrou um prazo de duração do amor ainda menor: apenas 3 anos.
"As pessoas deviam dizer: eu te amo agora, porque dizer outra coisa dá a ideia de que o sentimento não vai acabar', afirma o psicólogo Luiz Cuschnir, do Instituto de Psiquiatria de São Paulo. 
Essa seria a grande tragédia dos amantes, segundo o escritor britânico Wiliiam Somerset Maugham: a de ter que encarar  algo que eles, no auge da paixão, recusam-se a admitir: que o amor acaba, deixando em seu lugar apenas uma sombra daquilo que foi um dia. 
O psicólogo Ailton Amélio explica: "O amor acaba porque ele depende dos fatos para ser nutrido. É como andar de bicicleta. Se parar, cai". 
Já o psicólogo Bernardo Jablonksi, autor de "Até que a vida nos separe: a crise do casamento  contemporâneo", e que já passou por várias separações, é mais incisivo: "Paixão eterna, amor que dura a vida toda, isso só existe na ficção".
Se isso é uma regra, ela comporta alguma exceção, como admite o cineasta Roberto Moreira. Para ele, o amor até pode ser eterno, embora a probabilidade seja pequena. Um casamento que dure mais de 10 anos, já pode ser considerado um sucesso extraordinário.
Qual seria, então, a maneira de garantir a perenidade do amor? 
Talvez a fórmula mais adequada seja a dos antigos, que sempre disseram: "O amor é como uma flor, que precisa ser protegida e regada diariamente (de poesia, de magia, de encanto). Senão, ela murcha e morre."

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Caminhos



Caminho
Caminhos
Longos caminhos
Frágeis caminhos
Estranhos caminhos
Dolorosos caminhos

Caminhar solitário
ou à sombra de um sorriso,
sonhando sonhos
que já não se sonham mais.

Esperar o reencontro
ao final da curva,
onde a reta se refaz.

Caminhar,
maratonista da Vida,
inda que ferido, cansado, dorido,
mas sem largar a mão,
jamais.
(Alvaro Rodigues)