quinta-feira, 5 de junho de 2008

Cabala e Gnose


Diante da Árvore da Vida, o Homem se entrega a um processo contemplativo e dinâmico de busca, por algo indefinido mas desejado.Talvez queira entender a estrutura revelada do Universo ou, quem sabe, a própria essência de Deus, que o misticismo Mercavah propõe chamar de Revelação. Não é isso que o cabalista persegue na contemplação da Árvore, ainda que a Cabala seja também uma tentativa de planificar o Universo, em termos místicos? De qualquer forma, não deixa de ser um processo de tomada de consciência.
E, se assim for, isto é Gnose.

Cabala é gnose judaica, com seu mito da criação e seus conceitos mágicos, já perceptíveis nos primeiros Hassidin. Os sábios cabalistas afirmam que Kether e Malkuth são uma só manifestação, que são opostos complementares, tendo um elementos do outro. Mas ainda que suas características sejam iguais, suas manifestações são diferentes; podem até ser opostas. Então, à luz de tal conceito, não seria correto dizer que o homem primordial - o Adam Kadmon - é também uma expressão do Logos, que os gnósticos cristãos relacionam ao Cristo?

Cabala pode ser entendida como sinônimo de "receber" um algo que, para ser apreendido, há de ser sentido, e isso nos remete à via gnóstica do coração (Bhakti), que a tradição cristã preservou como um processo contemplativo, mas que, quando associado à prece, pode conduzir ao êxtase, como o experimentado por Francisco de Assis.

Pela vertente zotheriana, esse processo gnóstico leva-nos ao Egito.Aliás, Zothy (ou Sothy) é o nome egípcio para a estrela Sírius, alfa da constelação do Cão Menor. Há quem diga que Sírius se relaciona com Typhon, que entre os mitos antigos do Egito seria a mãe do deus Seth. Podemos especular muito mais sobre as conseqüências místicas dessa afirmação. Podemos até concluir que os mais antigos egípcios acreditavam que Typhon seria a mãe de Rá e Seth, diferentemente. E se Rá (o sol) é filho de Zothy, dá-se que Zothy estaria em Kether e o Sol seria Tiferet. Na Cabala, toda a luz de Tiferet provém de Kether. Por isso, o Cristo é normalmente associado a Tiferet, ou oSol, ou o Filho.

Segundo a definição zotheriana, a manifestação do conhecimento viria diretamente ao homem, proveniente de Kether. Conhecimento como sinônimo de luz, ou a luz do conhecimento. A luz de Kether incidindo diretamente sobre o homem, sem obstáculos.
Isto é Gnose.

É preciso não esquecer que o processo gnóstico zotheriano, apesar de contemplativo, não é passivo. Tem que haver a iniciativa da comunhão que dinamiza o pentagrama invertido (apropriado por satanistas) - expressão simbólica do "faça-se conforme Sua vontade" - porém que requer o empenho de nossa própria vontade para que a luz se irradie plenamente. Uma jornada que parte do Inconsciente para chegar ao Consciente, mas que retorna quando o Consciente adquire a consciência do Inconsciente e vitaliza sua manifestação. Não há oposição, não há confronto. Há integração, dimensões que se complementam.

Isso se proclama mais explicitamente na via gnóstica voduísta, tida como manipuladora das chamadas energias infernais. Algo assim como chegar à luz usando instrumentos das trevas. Dizem que é um processo perigoso, por colocar o homem diante de sua própria sombra, de sua lua negra ... de sua Lilith.

Se é verdade que o gnóstico é alguém que recebe o conhecimento(Gnose) que desce ao seu encontro, proveniente de esferas superiores, induzindo-o a um estado contemplativo, é também verdade que ele precisa se elevar para receber esse conhecimento. Em algum ponto dessa estrada, dá-se o encontro daquilo que desce com aquilo que sobe. E não será esse encontro inexorável, fruto de uma atração irresistível entre duas dimensões que se buscam e se acoplam, até por serem, na essência, iguais?
Como proclama a tradição hermética: O que está em cima não é como o que está embaixo?

Estudando ou não a Cabala, somos todos, mais ou menos, gnósticos.

Nenhum comentário: