quarta-feira, 14 de maio de 2008

Coisas da Vida















Ele a conheceu e a namorou nos seus tempos de universitário, em plena ditadura militar brasileira.Ela era militante da esquerda estudantil, marxista-leninista de carteirinha, vermelha até o diabo dizer basta, do tipo que só ia pra cama mediante atestado ideológico.
Ficava puta da vida quando ele a puxava para si, dizendo: "Vem cá, meu pedaço de materialismo dialético!". Protestava, mas terminava se entregando.

Não estavam apaixonados; apenas se gostavam, se entendiam e se curtiam.Passavam a maior parte do tempo juntos discutindo política: a revolução cubana, o imperialismo americano, a Guerra do Vietnã, a Primavera de Praga, o livrinho vermelho de Mao.

Sexo apenas de vez em quando, e isso quando conseguiam descolar um espaço adequado, como o apartamento de um amigo.
No futuro, ele viria a lamentar não ter investido um pouco mais em Eros, porque ela, quando despida de sua jaqueta cheia de bottons revolucionários, revelava-se uma fêmea ardente e integral, para quem não havia ... isso-eu-não-quero, isso-eu-não-gosto, isso-eu-não-faço.

Um dia, o namoro acabou - ele já nem lembra como ou porque.
Soube, depois, que ela conheceu um pesquisador suiço, que viera estudar a flora amazônica, e que se encantou com seus olhos claros em tez morena, combinação incomum que a dotava de uma certa beleza exótica.Acabaram se casando e foram viver na Europa.

E assim, enquanto Che Guevara morria na selva boliviana, sepultando as esperanças de uma revolução continental, ela se acomodava a uma existência pequeno-burguesa no país que é um dos ícones do capitalismo financeiro internacional.
Coisas da vida.

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