sexta-feira, 11 de julho de 2008

O TOQUE

Foi um toque da mão dela que o despertou, fazendo-o sentir a pulsação da fêmea emergente.
Espanto, choque talvez. Como era possivel que aquilo estivesse acontecendo?
Ele ainda tentou ver naquele corpo esguio, a criança que ela um dia fora. Inutil. Jamais voltaria a olhá-la como outrora.

A inocência se perdera.

Não lhe era uma experiência inusitada. Antes dela, outras moças tão jovens já se haviam aninhado em seus braços.Mas ela era diferente, especial, algo que chegou de surpresa, num tempo em que ele, mais do que o agreste encontro de corpos despidos, buscava o amplexo macio de duas almas nuas.

Assim, ele se permitiu sonhar, como há muito tempo não fazia, querendo que o amor fluisse livre, sem farsas, para que a luz encantasse os dias, com prazeres divinais e instantes infinitos. Por isso, mesmo quando a realidade se afirmou sobre o sonho, tornando-o inviável, ainda reteve nos lábios o sabor do primeiro beijo que colheu dos seus.

No último por-do-sol que vivenciaram juntos, ele a puxou para si, envolveu-a em seus braços e abraçou-a com força, como se pudesse guardá-la toda dentro do seu peito. Mas sabia que não era possivel. Uma parte dela se manteria sempre fora, hóspede de lugares e condutas que lhe eram estranhas.

Então, contendo a tristeza que lhe abrazava os olhos, ele desfez o derradeiro amplexo que a mantinha cativa, e liberou-a de seus laços.
Por algum tempo, ainda vislumbrou a figura morena que se distanciava lentamente.
Até que a noite escura a envolveu, e ela se tornou passado.

Nenhum comentário: