terça-feira, 30 de setembro de 2008

O semeador do bem

Era noite e Ele estava só.
Lobrigou, à distância, as muralhas de uma grande cidade e para ela se dirigiu. E, quando se aproximou, ouviu o tropel de folguedos, o alarido da alegria e o ruído ensurdecedor de muitos alaúdes.
Ele bateu no portão e os guardas abriram-lho.
E Ele viu uma casa de mármore, com belas colunas de mármore à sua frente. 
Ele entrou na casa e cruzou o vestíbulo de calcedônias e atingiu o salão de festins.
E viu, estendido sobre um leito de púrpura marinha, um homem cujos cabelos estavam coroados de rosas vermelhas e os lábios rubros manchados de vinho.
E Ele aproximou-se do homem, por detrás, tocou-lhe as costas, dizendo-lhe:
- Por que vives assim?
O homem, voltando-se, reconheceu-o e respondeu-lhe:
- Eu era leproso e tu me curaste. Como iria viver?
Ele deixou a casa e voltou à rua. Pouco depois, viu uma mulher cujo rosto e trajes eram coloridos e cujos pés estavam recamados de pérolas. Atrás dela, cauteloso como um caçador, caminhava um jovem usando túnica de duas cores. O rosto da mulher era tão belo quanto o rosto de um ídolo e os olhos do jovem faiscavam de sensualidade.
Ele seguiu o jovem e tocando-lhe na mão indagou:
- Por que olhas para essa mulher de tal maneira?
O jovem, voltando-se, reconheceu-o e retrucou-lhe:
- Eu era cego e tu me restituiste a vista. A quem mais eu poderia olhar?
Ele correu para adiante e, tocando no vestido colorido da mulher, perguntou-lhe:
- Não há outro caminho para trilhares que não seja o do pecado?
A mulher voltou-se e, reconhecendo-o, replicou-lhe:
- Tu perdoastes meus pecados e este é um caminho agradável.
Ele, então, afastou-se da cidade. E, quando a deixava, deparou-se-lhe, à beira da estrada, um homem a chorar. Ele apiedou-se do homem e, tocando nos seus cabelos, perguntou-lhe:
- Por que choras?
O homem ergue os olhos e, reconhecendo-o, respondeu-lhe:
- Eu estava morto e tu me ressuscitaste. Que farei agora senão chorar?
(Conto de Oscar Wilde)

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