sábado, 28 de junho de 2008

Elas se foram


Nestas últimas semanas, o país perdeu duas mulheres públicas. A primeira a partir foi Ruth Cardoso, esposa do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma intelectual com brilhante carreira acadêmica (a exemplo do marido) e que, enquanto primeira-dama, deixou a mesma imagem que a fazia ser respeitada fora dos meios palacianos: a de uma mulher culta, distinta e discreta.

Discrição é uma qualidade que aprecio, mas talvez justamente por isso, eu pouco sabia sobre Ruth, antes de FHC chegar à presidência, salvo uma pequena informação: reconhecendo em si o perfil da pesquisadora, ela decidiu, aos 19 anos (1950), cursar Filosofia na USP, contrariando a opinião de sua família. E como discrição não é incompatível com determinação, dois anos após ela já estava trabalhando no setor de RH daquela Universidade, na qual viria a exercer, por muitos anos, a função de professora, e obter seus mestrado e doutorado em Antropologia, este último em 1972.

Sua carreira bem sucedida atesta, uma vez mais, que quando nos dedicamos, plenamente, a fazer algo de que gostamos, com o qual nos identificamos, quase sempre conseguimos fazê-lo bem ... e ser reconhecidos por isso.



A segunda a partir também era uma mulher sóbria, ainda que se dedicasse a atividades menos discretas. Refiro-me à cantora Sylvinha Araújo, esposa e "partner" do também cantor, Eduardo Araujo (com quem se casou aos 17 anos, depois de 2 de namoro), ambos despontados no cenário artístico, à época da Jovem Guarda.

A simpatia era a marca registrada do casal, mas eu, que jamais fui fã das músicas que cantavam, ainda assim gostava de vê-los se apresentar em público, por conta de um detalhe: o brilho que refulgia em seus olhos, ao olharem um para o outro, durante o show, mesmo quando já acumulavam mais de duas dezenas de anos de casados.

Casamento é isso: lealdade, cumplicidade ... ser um no outro. Algo cada vez mais dificl de ser testemunhado nestes tempos acres, egocêntricos e de escassa sensibilidade, que ora vivemos.

terça-feira, 10 de junho de 2008

Mateus 5,13













"Vós sois o sal da terra.
Se o sal se tornar insípido,
como se poderá restaurar-lhe o sabor?"

domingo, 8 de junho de 2008

O Cristo

















Guiado por "sábios" de diferentes épocas, que o ajudam a cimentar a estrada da auto-desvalorização, o homem, exigente e intolerante para consigo mesmo, se culpa por não alcançar a Luz divina. E conclui que não a alcança por força de seus "pecados". Então, tenta redimí-los, na forma de sacrifícios e oferendas a quem, em princípio, disporia do poder de perdoá-lo e limpá-lo de suas iniqüidades.

Aqui e ali, surge alguém em quem muitos reconhecem uma resposta cósmica às suas súplicas. Há quem vá mais além, admitindo estar diante do próprio Deus encarnado. Esses homens dizem e fazem, mas disso pouco se preserva, soterrado pela teologia que se ergue em torno de sua vaga lembrança.

Houve um tempo em que um homem, chamado Jesus, viveu sobre a face da Terra. Seus pósteros chamaram-no de "Cristo".

A História, que é uma ciência, busca saber e entender quem foi Jesus e o que ele fez. Quanto ao Cristo, ela nada pode ou ousa dizer, porque ele não pertence ao mundo onde a Ciência garimpa conhecimento. Seu lugar é no interior do Homem, protagonista de um processo espiritual, que busca capturar um sentido transcendente para a vida e desvendar os mistérios de seu próprio destino.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Cabala e Gnose


Diante da Árvore da Vida, o Homem se entrega a um processo contemplativo e dinâmico de busca, por algo indefinido mas desejado.Talvez queira entender a estrutura revelada do Universo ou, quem sabe, a própria essência de Deus, que o misticismo Mercavah propõe chamar de Revelação. Não é isso que o cabalista persegue na contemplação da Árvore, ainda que a Cabala seja também uma tentativa de planificar o Universo, em termos místicos? De qualquer forma, não deixa de ser um processo de tomada de consciência.
E, se assim for, isto é Gnose.

Cabala é gnose judaica, com seu mito da criação e seus conceitos mágicos, já perceptíveis nos primeiros Hassidin. Os sábios cabalistas afirmam que Kether e Malkuth são uma só manifestação, que são opostos complementares, tendo um elementos do outro. Mas ainda que suas características sejam iguais, suas manifestações são diferentes; podem até ser opostas. Então, à luz de tal conceito, não seria correto dizer que o homem primordial - o Adam Kadmon - é também uma expressão do Logos, que os gnósticos cristãos relacionam ao Cristo?

Cabala pode ser entendida como sinônimo de "receber" um algo que, para ser apreendido, há de ser sentido, e isso nos remete à via gnóstica do coração (Bhakti), que a tradição cristã preservou como um processo contemplativo, mas que, quando associado à prece, pode conduzir ao êxtase, como o experimentado por Francisco de Assis.

Pela vertente zotheriana, esse processo gnóstico leva-nos ao Egito.Aliás, Zothy (ou Sothy) é o nome egípcio para a estrela Sírius, alfa da constelação do Cão Menor. Há quem diga que Sírius se relaciona com Typhon, que entre os mitos antigos do Egito seria a mãe do deus Seth. Podemos especular muito mais sobre as conseqüências místicas dessa afirmação. Podemos até concluir que os mais antigos egípcios acreditavam que Typhon seria a mãe de Rá e Seth, diferentemente. E se Rá (o sol) é filho de Zothy, dá-se que Zothy estaria em Kether e o Sol seria Tiferet. Na Cabala, toda a luz de Tiferet provém de Kether. Por isso, o Cristo é normalmente associado a Tiferet, ou oSol, ou o Filho.

Segundo a definição zotheriana, a manifestação do conhecimento viria diretamente ao homem, proveniente de Kether. Conhecimento como sinônimo de luz, ou a luz do conhecimento. A luz de Kether incidindo diretamente sobre o homem, sem obstáculos.
Isto é Gnose.

É preciso não esquecer que o processo gnóstico zotheriano, apesar de contemplativo, não é passivo. Tem que haver a iniciativa da comunhão que dinamiza o pentagrama invertido (apropriado por satanistas) - expressão simbólica do "faça-se conforme Sua vontade" - porém que requer o empenho de nossa própria vontade para que a luz se irradie plenamente. Uma jornada que parte do Inconsciente para chegar ao Consciente, mas que retorna quando o Consciente adquire a consciência do Inconsciente e vitaliza sua manifestação. Não há oposição, não há confronto. Há integração, dimensões que se complementam.

Isso se proclama mais explicitamente na via gnóstica voduísta, tida como manipuladora das chamadas energias infernais. Algo assim como chegar à luz usando instrumentos das trevas. Dizem que é um processo perigoso, por colocar o homem diante de sua própria sombra, de sua lua negra ... de sua Lilith.

Se é verdade que o gnóstico é alguém que recebe o conhecimento(Gnose) que desce ao seu encontro, proveniente de esferas superiores, induzindo-o a um estado contemplativo, é também verdade que ele precisa se elevar para receber esse conhecimento. Em algum ponto dessa estrada, dá-se o encontro daquilo que desce com aquilo que sobe. E não será esse encontro inexorável, fruto de uma atração irresistível entre duas dimensões que se buscam e se acoplam, até por serem, na essência, iguais?
Como proclama a tradição hermética: O que está em cima não é como o que está embaixo?

Estudando ou não a Cabala, somos todos, mais ou menos, gnósticos.