Talvez, se houvesse amor, nunca tardasse;
Mas, visto que, se o houve, houve em vão,
Tanto faz que o amor houvesse ou não.
Tardou. Antes, de inútil, acabasse.
Meu coração, postiço e contrafeito,
Finge-se meu. Se o amor o houvesse tido,
Talvez, num rasgo natural de eleito,
Seu próprio ser do nada houvesse feito,
E a sua própria essência conseguido.
Mas não. Nunca nem eu nem coração
Fomos mais que um vestígio de passagem,
Entre um anseio vão e um sonho vão.
Parceiros em prestidigitação,
Caímos ambos pelo alçapão.
Foi esta a nossa vida e a nossa viagem.
Fernando Pessoa
2 comentários:
Oi querido
Eu não conhecia essa poesia do mestre Pessoa.
Ela é soturna como uma madrugada sem luar e sem consolo
bjs
Flavia
Consolo é desnecessário, Flavinha.
Necessário é manter acesa a chama da esperança, para que ela ilumine a madrugada sem luar.
Grato por seu comentário.
Bjs
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