domingo, 27 de março de 2011

Estranha forma de vida


Foi por vontade de Deus
Que eu vivo nesta ansiedade.
Que todos os ais são meus,
Que é toda minha a saudade.
Foi por vontade de Deus.
Que estranha forma de vida
Tem este meu coração:
Vive de forma perdida;
Quem lhe daria o condão?
Que estranha forma de vida.
Coração independente,
Coração que não comando:
Vive perdido entre a gente,
Teimosamente sangrando,
Coração independente.
Eu não te acompanho mais:
Pára, deixa de bater.
Se não sabes onde vais,
Porque teimas em correr,
Eu não te acompanho mais.

Guerreiros



Guerreiros são pessoas,
são fortes, são frágeis.
Guerreiros são meninos
no fundo do peito.
Precisam de um descanso,
precisam de um remanso,
precisam de um sonho
que os tornem refeitos...
(Gonzaguinha)


O velho


Me diga agora
O que é que eu digo ao povo,
o que é que tem de novo
pra deixar ?
Nada, 
só a caminhada longa, 
pra nenhum lugar
(Chico Buarque)

segunda-feira, 21 de março de 2011

Benedito Nunes



Encontramo-nos, há muito tempo, no saudoso prédio da saudosa Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Pará. Ele, já um mestre; eu, neófito do saber.

Depois que saí  da FAFI,  para cair nas salas de aula - idealista docente de História -  nunca mais estivemos perto um do outro, como naquelas tardes no casarão da Generalíssimo Deodoro. Ainda assim, não me furtei ao conhecimento de sua brilhante carreira de pensador, professor, escritor.

Agora, ele se foi e eu continuo por aqui, ainda um aprendiz do saber, consciente de que ter sido seu aluno, mesmo que por um único e breve semestre, foi um privilégio que não muitos usufruiram, naqueles longínquos e tumultuosos anos 60 do Século XX.



Medo




Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços.
Não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas



cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
                                                              - Carlos Drummond de Andrade