sábado, 14 de março de 2009

Cansaço



É preciso amar a vida e vivê-la plenamente hoje, como se não houvesse amanhã.

Mas há dias em que a vida semelha um fardo, que carregamos às costas, arrastando-o pela estrada longa e pedregosa que leva a lugar nenhum. É, então, que somos tomados pelo cansaço, um enorme e profundo cansaço, que se instala e avassala os recônditos da alma.

Andamos em círculos. De onde parece germinar a luz nova de um farol, acabamos por descobrir a velha e abusada candeia, com seu brilho mortiço e vulgar.

O dia se abre no enfrentar dos problemas de sempre, todos miseravelmente iguais. Resolvê-los não nos gratifica, apenas garante que amanhã estaremos na trincheira, outra vez, para voltar a enfrentá-los.

Uma das desvantagens de acumular muitos anos é a perda inexorável de qualquer tipo de inocência. Cada vez se torna mais dificil gozar a volúpia da descoberta de algo realmente novo, diferente, desconhecido. Tudo vai tomando um gosto de usado, de repetido e, não raro, de medíocre.

Lidar com o que é pequeno e vulgar nos torna mais cansados e desalentados. Aturamos os que chafurdam na vaidade comesinha, dispostos a descer aos porões da indignidade, em troca de minúsculas posições de prestígio e poder, enquanto nossos olhos, quase em desespero, buscam o longe, a miragem, o fascínio dos grandes desertos.

Ao cabo de dias como esses, felizes os que, ao menos, dispõem de um colo macio onde repousar a cabeça cansada e deprimida.

- Alvaro Rodrigues (agosto de 2008)