sábado, 21 de fevereiro de 2009

Adeus, Max



O Pará, o Brasil, a Poesia, perderam Max Martins, que deixou este mundo e partiu para outras paragens, no final da tarde de uma segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009.

Max nasceu em Belém do Pará em 1926. Exerceu vários cargos públicos até o momento de sua aposentadoria, a qual o Inamps incorporou outra: a de escritor, no primeiro caso de alguém que recebe benefícios de aposentadoria por ter exercido, por mais de trinta anos, a poesia.

Lançou seu primeiro livro, "O Estranho", em 1952 (edição do autor), que refletia (segundo o que dele escreveram alguns críticos) a percepção, mesmo que tardia, do modernismo, principalmente da musicalidade de Cecília Meireles e do coloquialismo estilizado de Carlos Drummond de Andrade e Mário Faustino.

A influência de Faustino é ainda mais nítida em "Anti-retrato" (1960), sobretudo na forma de construção da poesia.

"Já é tudo pedra,
os dias, os desenganos.
Rios secaram neste rosto, casca
de barro, areia causticante".

Esse apereiçoamento do projeto de escrita demoraria uma década para voltar a se expressar, com "H'Era" (1971), onde, ao lado da exercida por poetas nacionais, nota-se a influência de escritores estrangeiros, como Dylan Thomas, William Alden e Henry Miller:

"Palavras famintas pedem bis, e o X
de Hamlet e Henry Miller me visava;
velhas rezavam, se revezavam
em cantos, panos, palinódias".

Em "O Risco Subscrito" (1976), seus poemas  ganham um tom mais universalizante e a preocupação com a linguagem se torna o próprio assunto do poema, estabelecendo uma nova relação formal com o espaço em branco da página, no que (meu ex-professor universitário) Benedito Nunes, na apresentação da obra, chama de "ensaio de espacialismo":

"o olho
do ovo

o ovo
do olho".

Em "Caminho de Marahu" (1983), Max percorre a trilha dos temas eróticos, que ele transforma em objeto de investigação e crítica, associando a natureza da pesquisa de linguagem à natureza do desejo sexual:

"O branco apaga tudo - as cores deste gozo
E o próprio gozo,
neste poço,
cala
o som da água".

Em 1993, Max Martins foi agraciado com o prêmio de poesia Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, pelo conjunto de sua obra ("Não para Consolar"), cuja  maioria foi traduzida para o alemão, inglês e o francês.

Tive o privilégio de conhecê-lo pessoalmente à época que ministrei um curso sobre "Dinâmica da Comunicação", na fundação cultural "Casa da Linguagem", que ele fundou e dirigiu entre 1990 e 1994. Além do grande poeta que todos reconheciam, não demorei a me dar conta de estar lidando com alguém de imensa sensibilidade diante da vida e de uma extrema generosidade afetiva. Ou seja, alguém que sentimos prazer em conhecer.


Obras de Max Martins

O Estranho (1952)
Anti-Retrato (1960)
H'Era (1971)
O Ovo Filosófico (1976)
O Risco Subscrito (1980)
A Fala entre Parêntesis (com Age de Carvalho, à moda da renga, 1982)
Caminho de Marahu (1983)
60/35 (1985)
Poema-cartaz Casa da Linguagem (1991)
3 Poemas - folder com desenho, colagem (1991)
Marahu Poemas (1985)
Para ter onde Ir (1992)
Não para Consolar - poesia completa (1992)